A Luz dos Carrascos

Amanhece de novo e ninguém ouve
Nosso choro contido, nossa fome.
Até quando teremos de esperar
Por alguém com alguma compaixão?

"Acredite-me, um dia isso termina.";
E nós quisemos crer que era verdade,
Embora acreditar fosse difícil
E não nos desse pão ou nos curasse.

Mas ninguém se preocupa em compreender.
Nosso medo de tudo se mistura
À chuva e se dilui nas poças d'água.
Até quando esperar por compaixão?

Não há ninguém que queira compreender
Que tudo que dizemos não tem força.
Ninguém, ninguém parece perceber
Que a mesma dor tortura a todos nós;
Que uma única luz é que ilumina
Os passos dos carrascos e das vítimas.